Nas últimas semanas eu acompanhei algumas conversas em grupos de professores de inglês pelo Brasil e pelo mundo, e ainda existe um grande problema quando alguns alunos postam que estão a procura de professores de inglês para uma certa finalidade, mas querem que este profissional seja nativo. Minha sugestão permanece a mesma para todos aqueles que lidam com essa requisição: nativo de onde meu querido??
Por algum motivo, a história do ensino de inglês no Brasil é confusa, mal desenhada pedagogicamente, mal estruturada e faz com que certas pré-conceitos se difundam de forma que o próprio aluno não perceba que está se prejudicando.
Um dos conceitos é que aprender com um nativo, favorece dois aspectos do aprendizado – o primeiro é o fato de que você aprende com uma pessoa que fala o idioma nas vinte e quatro horas do dia dela (e não vou abordar este aspecto pelo simples fato de que, se assim fosse verdade, todo pessoa nascida e criada no Brasil seria um excelente professor de língua portuguesa, e só os professores de língua portuguesa e literatura Brasil afora sabem como isso não condiz com a realidade – pra dizer o mínimo) e a questão do “sotaque” para poder falar como um nativo. Mas eu volto a perguntar….nativo de onde meu bem???
Vamos levar em conta alguns fatos que talvez passem despercebidos pela maioria das pessoas, e que talvez possa servir de ponto de ancoragem para alguns professores e profissionais da área quando se depararem com esta pergunta.
Primeiro – os EUA não tem língua oficial. Sim meus beloved. Nos EUA a maioria das pessoas falam inglês mas, constitucionalmente falando, não há um idioma oficial. Cada estado pode, por exemplo, decidir ter uma língua oficial diferente. Pode ser que na Califórnia eles decidam que a língua oficial vai ser o esperanto a partir de agora, e em Washington eles passem a ter Chemehuevi como língua oficial (SIM…este idioma existe e é falado inclusive por algumas poucas pessoas nos EUA). Então, se por nativo você se refere aos EUA, você precisa rever seus estudos de história e geografia pra entender que por lá….o idioma nativo não é bem aquele que você estava pensando.
Segundo – o tal do sotaque. Seria extremamente difícil você conseguir aprender todos os sotaques possíveis para um dado idioma. E extremamente desnecessário. Um mesmo sotaque pode variar de acordo com o contexto sócio econômico, geração, retinia, raça e uma variedade de fatores individuais. E sabe o que isso quer dizer? Que sotaque é IDENTIDADE. Ele mostra sua regionalidade, sua natureza, sua origem, seus costumes e tradições. E eu não consigo entender como isso pode ser uma barreira na comunicação. Pensa comigo….se você está aprendendo um idioma (vamos pegar francês como exemplo só pra dar uma variada nos exemplos) você vai falar em francês somente com pessoas nascidas e criadas em países que tem francês como língua nativa? Ou você pretende se comunicar em francês com toda e qualquer pessoa que também entenda e fale francês. Se você for seguir a linha de raciocínio de se comunicar com pessoas que nasceram e foram criadas em países que tem o tal idioma como língua materna…você vai aprender inglês mas não pode falar em inglês com ninguém nascido nos EUA já que lá não se tem língua materna oficial né. Os sotaques variam dentro de uma mesma região e isso pertence a identidade de cada grupo. O sotaque não é e nunca vai ser um problema para comunicação. O que pode gerar problema na comunicação, são fatores como sílabas tônicas indevidas nas palavras, entonação, aglutinação de palavras, erros gramaticais graves e coisas do tipo, e não o seu lindo sotaque, que mostra a beleza da sua identidade. O fato do seu professor de inglês (ou francês para mesmo efeito) morar nas Ilhas Cocos e ter nascido e ter sido criado por pais de nacionalidade italiana e asiática, não significa que o inglês dele seja de menor qualidade. O que torna ele um bom professor de inglês são elementos que não tem nada a ver com o sotaque dele. E o seu sucesso com o aprendizado e a fluência dos idiomas não tem nada a ver com o seu.
Sotaque é cultura, é identidade. O risco que se corre ao usar ele como barreira, como elemento separador de qualidade, é que você vai correr o risco de se privar da oportunidade de realmente praticar qualquer novo idioma com pessoas do mundo todo, vai deixar de olhar elementos culturais de identidade de novas culturas, e provavelmente vai deixar de aprender novos idiomas com medo de usar sua identidade, tendo ela como seu fator de exclusão, e não como fator diferenciador da sua identidade.
Então da próxima vez que você for pensar em sotaques, pense se você usar ele como perfil identificador, ou como item excludente pro seu aprendizado…..
Aproveita e comenta aqui o que você acha dessa questão de sotaques e da maneira como algumas pessoas enxergam ele…..vamos compartilhar ideias e conhecimentos.