Milena Mignossi – Educação Bilíngue & Inclusiva

Rhythm of the language.

Não é de hoje que preparo alunos para entrevistas de emprego em inglês, entrevistas para intercâmbios e bolsas de estudo no exterior e me deparo com alunos falando de maneira tão robótica que a qualquer momento tenho a impressão que a caixinha de clicar “não sou um robô” vai aparecer do nada na testa deles.

Nos meus últimos 21 anos como professora de inglês eu percebi que existem algumas coisas que, como professores, precisamos dar uma atenção especial para que o ato de falar um segundo idioma não seja algo tão desesperador e robótico.

Primeiramente, em nome Jesus, Alá, Buda e todos os profetas que pregaram amor e paz nesse mundo – vamos acabar com essa conversinha sobre sotaque. Cada criatura viva nesse mundo que se atreva a falar um segundo, terceiro ou quarto idioma vai ter um sotaque característico de sua origem, de sua história e da sua criação ( e isso é lindo demais né gente!!! é o que faz a gente tão único na nossa essência). O que faz com que uma pessoa entenda ou não você na sua fala não é seu sotaque, seu “R” puxado, seu “T” arrastado ou seu “S” mais assoviado (sou sim uma defensora do “R” puxado como boa interiorana que sou e como boa falante de poRta, poRteira e poRcaria). O que faz com que uma palavra (ou frase) não seja interpretada, entendida é justamente a falta de silabas tônicas bem colocadas (o eterno duelo do VEgetable com o vegeTABLE). Ensinar o aluno sobre sílaba tônica pode acabar com as frustrações que muitos deles tem por achar que não sabem falar inglês, que a pronúncia de determinadas palavras é impossível para eles.

Segundo. Ritmo. A malemolência da linguagem. Já tive o privilégio de acompanhar os alunos em suas entrevistas e o que sempre me salta aos olhos quanto a falha na comunicação é o fato de que, muitas vezes, a outra parte não sabe que a pessoa já terminou de dar sua resposta e que ele já pode continuar falando, que está na sua vez de falar. O que você tem é aquele silêncio constrangedor e os grilinhos saltando aos montes na cabeça dos alunos.

A preocupação com o FALAR passar por cima da própria necessidade de respirar entre as falas. As perguntas não soam como perguntas. Não há sarcasmo, risadas, e as piadas não são entendidas como piadas porque é como se a fala não tivesse pontuação. Experimenta ler um texto em voz alta sem respeitar a pontuação. É exatamente isso!! (Inclusive essa é uma coisa que os examinadores em provas de proficiência observam no aluno – estar confortável o suficiente com o segundo idioma para se EXPRESSAR livremente nele).

Uma sugestão que dou e que tem rendido excelentes frutos com meus alunos é a leitura de textos em voz alta para justamente observar a pontuação, a entonação das perguntas e exclamações, as vírgulas. Para parecer menos mecânica nossa fala.

Peça para eles se gravarem lendo textos e se ouvirem depois. Eles percebem que a leitura está mecânica porque estão totalmente focados somente no texto escrito e não na sutileza linguística da pontuação.

Um terceiro e último ponto que vou ressaltar é algo que meus alunos mais avançados me chamaram atenção quando vieram estudar comigo. O danado dos conectores, linking words, períodos compostos por subordinação e coordenação. Que diabo é isso? (outra coisa que, por sinal, ganha altos pontos nas provas de proficiência). A maioria dos alunos luta muito para incorporar estes elementos em sua linguagem falada e escrita por alguns fatores:

*os professores nunca se comunicam assim com eles.

*deixamos para introduzir esses elementos quando eles estão naquilo que seria o nível avançado apenas e eles já tem todos os vícios de linguagem possíveis baseados em uma comunicação e escrita mais simplista.

Ser proficiente em um segundo idioma é muito mais do que dominar um texto cientifico na segunda língua. Vai além!!!!

Usar expressões, palavrões, piadas, sarcasmo e dar a vez da pessoa falar fazem parte dos movimentos linguísticos, fazem parte do SE EXPRESSAR. E precisamos trazer isso para nossa sala de aula com mais frequência. Talvez focar menos no verbo TO BE de vez em quando e na perfeição do present perfect e dar vez aos movimentos da língua possam beneficiar nossos alunos em seu processo de aquisição linguística.

Então coloquem o segundo idioma pra dançar!!!!!

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